Jornalísticos

Blog da turma de jornalismo do segundo semestre de 2007 da Universidade Federal Fluminense.

Mais Complexo do que parece


Resolvi reproduzir aqui parte de uma reportagem minha feita no 1° semestre deste ano, quando a cidade não vivia o caos generalizado que vive nesta semana, mas demonstra que as raízes já estavam plantadas. Eu sempre me incomodei com o fato de ninguém ligar para o descaso com a região onde eu moro, o que na verdade isso me irrita todos os dias no caminho de volta pra casa.
Enfim, a matéria mostra um pouco esse descaso em números e estatísticas do próprio governo. E o resultado dessa política de ausência do Estado durante tanto tempo, está sendo mostrado ao vivo, fulltime na TV. A quem vale mais a pena proteger?

Segurança pra quem tem



Inhaúma é um bairro famoso pelos altos índices de violência, e baixos índices de Desenvolvimento Humano. Segundo dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), sobre o IDH dos bairros do Rio de Janeiro, de 1991 a 2000, Inhaúma é o 81° colocado, enquanto entre os dez primeiros, oito estão na Zona Sul. As exceções são o Joá, na Barra da Tijuca e o Jardim Guanabara, na Ilha do Governador. Na última colocação, está o Complexo do Alemão, conjunto de favelas vizinho ao bairro.
Os índices de violência assustam: De acordo com o Instituto de Segurança Pública do Governo do Rio de Janeiro (ISP), entre as regiões da cidade delimitadas pelo Instituto (AISP), a de Inhaúma aparece com 60 homicídios dolosos de janeiro a maio deste ano, 93 roubos a estabelecimentos comerciais, e 884 roubos de veículos. Toda região denominada AISP 3, possui somente 5 D.Ps e um Batalhão da P.M. , localizado no Méier. Em contraponto, na região que compreende os bairros mais valorizados da Zona Sul, a AISP 23, os índices são de 10 homicídios dolosos, 29 roubos em comércios, e 25 roubos de veículos.
Nas 3 AISPs da Zona Sul (02, 19 e 23), residem 595.298 pessoas, e existem 6 D.Ps e 3 Batalhões da P.M. Enquanto os 558.292 habitantes da AISP 03, na Zona Norte, contam com apenas 5 D.Ps, um Batalhão da P.M., e mais do que o dobro de ocorrências registradas.

O abandono da Zona Norte

O ISP divulga mensalmente informações sobre a violência na cidade, dividida em regiões chamadas AISP (Áreas Integradas de Segurança Pública). Não foi possível conseguir informações específicas sobre o bairro de Inhaúma, já que cada estatística diz respeito à uma região administrativa que compreende vários bairros como Méier, Cachambi, Del Castilho, Engenho Novo, entre outros. Ainda assim, é possível traçar um panorama geral da desigualdade entre os índices de segurança pública entre determinadas regiões.

O site Rio Como Vamos detalhou índices de violência da região em 2007 e 2008: Segundo o site, que usa como fontes os dados do ISP, o número de roubos a estabelecimentos comerciais e residências em Inhaúma aumentou de 50 em 2007 para 56 em 2008. De Janeiro a Maio de 2009, segundo o próprio ISP, na região administrativa a que o bairro pertence, ocorreram 95 roubos a estabelecimentos comerciais e 23 roubos à residências. Em 2010, uma pequena queda de 93 estabelecimentos e 16 residências.

Se compararmos com os índices da região que compreende os bairros da Zona Sul, a diferença é grande: Ali, os números do ISP apontam uma incidência muito menor nos registros gerais de ocorrências no período de Janeiro a Maio deste ano. Enquanto a Zona Sul é responsável por apenas 13,5% do total de ocorrências, a Zona Norte tem 44,1%. Um exemplo da desigualdade da distribuição dos números está no número de homicídios dolosos: De janeiro a maio de 2010, foram 20 na Zona Sul e 353 na Zona Norte.

A desigualdade se confirma se observarmos a distribuição de policiais em relação ao número de habitantes por região: Enquanto a Zona Sul, subdividida em 3 regiões com cerca de 600 mil habitantes, possui um efetivo policial de cerca de 600 PMs nas UPPs recentemente instaladas em quatro favelas, em uma das subregiões da Zona Norte (AISP 9), com 850 mil habitantes, há apenas um batalhão de Polícia Militar. A região registrou 179 homicídios dolosos de Janeiro a Maio de 2010.
Os números da violência demonstram o quanto é complexa e desigual a distribuição da violência e da segurança na cidade do Rio de Janeiro. Para os moradores de dentro dos portões, a sensação de segurança termina assim que eles se abrem para o lado de fora, na cidade onde persistem os motivos que levam cada vez mais ruas a se isolarem como condomínios fechados.

Segundo notícias divulgadas, o governo pretende diminuir o déficit policial com a instalação de uma UPP no Complexo do Alemão, assim como foi feito nas favelas da Tijuca. Porém, o que se vê nas favelas é o sentimento oposto ao que predomina nos bairros ao redor. Esses sinais de abandono contribuíram para que o bairro, antes um promissor pólo comercial e industrial, se esvaziasse e se desvalorizasse ao longo do tempo. Hoje Inhaúma sofre não só com a violência, mas também com a desordem urbana e a falta de políticas públicas com o objetivo de valorizar novamente a área.

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