Jornalísticos

Blog da turma de jornalismo do segundo semestre de 2007 da Universidade Federal Fluminense.

Aos amigos , o Bem


Em sua obra  “A República”, Platão transcreve diálogos sobre o conceito de justiça entre Sócrates e seus alunos. Em uma das reflexões expostas no diálogo com Polemarco, este afirma que a noção correta de justiça seria “fazer  bem aos amigos, e mal aos inimigos”. Em resposta a Polemarco, Sócrates disse:
“ (...)os homens podem errar em seu juízo sobre os homens; de maneira que lhes pareçam honestos muitos que não o são, e vice-versa”. Assim, os bons seriam inimigos, e os maus, amigos. Desta forma, muitos poderiam prejudicar os amigos, e ajudar os inimigos indeliberadamente(...)”
O diálogo se encaixa perfeitamente nas ações da política externa dos Estados Unidos, especialmente quando pensamos no contexto atual dos países do Oriente Médio. A prática não é nova, e existem diversos exemplos, como no governo de George Bush, que ajudou o Talibã a expulsar os soviéticos do Afeganistão fornecendo armas e apoio logístico. Quis o destino que os amigos de 1989 se tornassem  inimigos a partir dos atentados às torres gêmeas em 2001. 
O ex-presidente George W. Bush e o rei Abdullah, da Arábia Saudita, em 2008. Larry Downing/Reuters
                                                                                     
A resposta de Sócrates define exatamente a situação em que os Estados Unidos se viram naquele momento, e posteriormente, no caso do Iraque. Hoje, no Oriente Médio, vemos pipocar protestos populares clamando por direitos básicos, e democracia, em países que vivem sob ditaduras há tempos. Muitos desses regimes eram apoiados pelo governo norte-americano, enquanto foram interessantes economicamente e não causavam problemas diplomáticos ou dilemas ideológicos muito evidentes para a opinião pública internacional, do tipo: Como que os maiores defensores da democracia no mundo apóiam um regime ditatorial?
No Egito, Mubarak  só perdeu o apoio americano após a enorme pressão popular interna e de inúmeros líderes de Estado pelo mundo. Mesmo assim, a recomendação do Pentágono para o Egito e seu ex-líder foi de uma “transição lenta e gradual”.
Na Líbia, se desenha história parecida com a do Afeganistão: O exército norte-americano e a Otan fornecem armas e apoio logístico para os rebeldes que tentam derrubar Khadafi, o mesmo que, no governo de George W. Bush,  se tornou aliado político na “luta contra o terror”,  fato que imediatamente abriu as portas para as grandes empresas multinacionais do petróleo e da construção civil na Líbia.
A situação é crítica também em outros países reconhecidamente aliados econômicos dos EUA, como no Iêmen, que enfrenta uma onda de protestos populares desde fevereiro contra Ali Abdulah Saleh, no poder desde 1991. Em nome dos negócios do petróleo e outros recursos naturais, os EUA mantêm alianças com outros países que vivem sob regimes opressores, como a Arábia Saudita, que vive em uma monarquia, Jordânia, Usbequistão, Casaquistão, entre outros pela Ásia e África. Por enquanto, estes países não são “inimigos”.
Outro ponto emblemático é o papel (ou inoperância) da ONU nessas questões. A Organização nunca teve força para impedir um ataque militar norte-americano, e parece longe de se mostrar capaz disso. O poderio militar superior do exército dos Estados Unidos se põe acima de qualquer sanção internacional.
 Todo esse cenário norteia as ações calculadas no Oriente Médio, apenas sobre aqueles países que já não são mais tão “amigos” da nação mais forte do planeta. As ditaduras amigas podem continuar à vontade. Pois para os Estados Unidos, os fins econômicos sempre justificaram os meios ideologicamente contraditórios, e continuam até hoje, até que outra população grite também por liberdade. 

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